Retomada das atividades no setor da mineração é reforço na economia do Interior
Royalties de setor que estava em franca ascensão antes da pandemia e
se prepara para reiniciar suas atividades servirão de amparo ao caixa
dos municípios
Abalado pela pandemia de coronavírus, como tantos outros, o
segmento da mineração tenta recuperar o fôlego que tinha alcançado no
Brasil antes da crise. No Ceará, com a retomada econômica se
concretizando, conforme espera o mercado produtor, a volta ao ritmo
anterior implica também em benefícios dos mais importantes para as
contas dos municípios do interior do Estado.
O setor
estava em viés de crescimento no início do ano, portanto antes de a
pandemia do novo coronavírus tomar todas as atenções no cotidiano
brasileiro. De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia,
naquele momento, era estimado um aumento da ordem de 17% nos
investimentos de 2020 até 2024, alcançando um total de US$ 35,2 bilhões
no mundo todo. Com as más notícias provocadas pela crise sanitária, o
Banco Mundial previu, para o Brasil, uma queda de cerca de 4,5% no setor
nacional, que, por sua vez, tenta reduzir os impactos diante dessa
grande adversidade.
No Ceará, o interior do Estado pode ser uma
das chaves do movimento de retomada na mineração, como apontam
importantes nomes ligados ao setor ouvidos pela reportagem da TrendsCE.
Para o diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM),
Tomás Figueiredo, o segmento tem tudo para ser nada menos que um dos
“pilares” desse retorno, com o processo sendo iniciado longe das grandes
metrópoles. “A chamada ‘Indústria das Indústrias’ terá papel de
destaque pela riqueza mineral do nosso País, necessidade de fornecimento de insumos das mais variadas indústrias, importância na balança comercial e por sua capilaridade,
com concentração das atividades no Interior, gerando riqueza onde esta
chega com mais dificuldade na distribuição”, argumenta Figueiredo.

Mirando uma perspectiva semelhante, José Rubens Moretti Junior, sócio diretor da Zeus Mineração,
afirma que, embora não tenha ainda elementos suficientes para
contabilizar os prejuízos acumulados pela crise, já é possível prever
quem e como seriam os primeiros beneficiados pela retomada promovida
pela atividade mineradora. “Com a retomada imediata, essa produção
impactará diretamente nos municípios, com a geração de emprego e aumento
da arrecadação. Muito importante frisar que 60% da CFEM (Compensação
Financeira pela Exploração Mineral) fica nos municípios onde estão sendo
extraídos os bens minerais”.
Entre essas cidades, destaca o executivo, estão grandes produtores locais de minérios, como Pentecoste,
Ipaporanga, Granja, Guaiúba, Maranguape, Palmácia, Chorozinho,
Ibaretama, Caridade, Paramoti, Apuiarés, General Sampaio, Redenção,
Itapiúna, Quixadá, Acarape, Choró, Ocara e Morada Nova. Muitas destas acabam beneficiadas em suas economias pela geração de empregos, que antes da crise chegou a uma marca de mais de 13 mil postos de trabalho.
A viabilidade dessa “onda positiva”, no entanto, teria que passar, inevitavelmente, por uma colaboração intensa da parte governamental do setor produtivo.
“Aí entram os governos para ajudar na desburocratização da
regularização dos documentos necessários para a produção e exportação
dos bens minerais”, acrescenta Moretti. Até o ano passado, 5,6 mil
processos estavam ativos na ANM, boa parte deles, cerca de 3,9 mil,
estava ainda na fase de requerimento de autorização de pesquisa em um
processo que pode chegar a durar duas décadas no Brasil.
Crise anterior
Produtores como a Head Mineração, empresa do Grupo Head PAR
com participação marcante de mais de duas décadas na extração de rochas
ornamentais no Ceará, têm encarado uma crise que já ocorria antes mesmo
da escalada do novo coronavírus. “Há relatos de até 60% de retração na
demanda como um todo, tanto no mercado interno quanto no externo. Mas o
mercado interno já vinha em dificuldade há algum tempo, em razão da
crise econômica que vínhamos atravessando no Brasil nos últimos anos, e
com o início da pandemia, muita coisa ficou inacabada pelo caminho”,
relata Igor Vale, Diretor de Operações da empresa.
Se os processos
para se obter uma licença de exploração – que abrange, basicamente, a
pesquisa mineral e a lavra – nunca foram dos mais simplificados, a eclosão da crise sanitária impôs novas e desafiadoras questões para os executivos da área.
“Mais especificamente para nossa empresa, atrapalhou a conclusão dos
trabalhos de pesquisas em curso, pois em decorrência da pandemia muitos
prestadores de serviços suspenderam temporariamente suas atividades,
resultando no atraso de trabalhos de sondagem, geofísica e testes de
laboratórios, dentre outros”, comenta Moretti.
Além do olhar para
dentro de nosso território, o sócio diretor da Zeus Mineração, empresa
com atuação em regiões diversas do País, destaca as oportunidades que
podem surgir do mercado externo. Mas não sem insistir na importância de
um acompanhamento intenso do Poder Público no decorrer do processo.
“Alguns minérios terão a retomada de imediato, pois os estoques da
China, que é o nosso grande consumidor, estão abaixando e eles vão
precisar aumentá-los. Insumos como o manganês e minério de ferro irão se
beneficiar dessa demanda chinesa. Aí entram os governos para ajudar na
desburocratização da regularização dos documentos necessários para a
produção e exportação dos bens minerais”.
‘Efeito dominó’
Outro fator preocupante
para as empresas com atuação no Ceará está relacionado a uma espécie de
“obra do acaso” advinda dos mercados mais relevantes da mineração
cearense. “China, a Itália e os Estados Unidos
são os principais clientes das nossas rochas, e foi justamente nessa
ordem que a pandemia se instalou”, lamenta Igor Vale, que, porém,
consegue ver o chamado “copo meio cheio” em meio às adversidades:
“A
boa notícia é que a China foi a primeira a entrar, mas também a
primeira a sair da crise, e já vem em forte retomada. A Itália já
anunciou, recentemente, o retorno das atividades do setor com grande
apoio do governo local. Os Estados Unidos ainda estão lidando com o pico
da pandemia, e, para este mercado especificamente, a preocupação maior é
com os próximos seis meses, tendo em vista que ainda estão consumindo o
estoque que possuem e não sabemos ainda como ficará a questão do
reabastecimento daqui para frente. Mas sabemos que não deverá ser na
mesma intensidade de sempre”, pondera.

Embora ainda não seja um dos maiores no rol dos grandes produtores
nacionais em termos de quantidade – o Ceará investe apenas 0,16% de seu
Produto Interno Bruto (PIB) na atividade extrativa mineral -, todos os
personagens entrevistados pela reportagem concordam que a maior aposta
cearense na retomada deve se manter na variedade de materiais encontrados em nosso território. “Entre os alvarás de pesquisa ativos, temos desde ouro, passando por nióbio, vanádio, tântalo, platina e terras-raras, que são minérios ligados às novas tecnologias, além de uma variedade grande de rochas ornamentais e pedras preciosas como turmalinas e grafita, entre outros”, cita Tomás Figueiredo.
*Com informações do Portal TrendsCE
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